quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Foammies 2011: Os melhores filmes (e alguns dos piores)

Continuamos a entrega dos Foammies deste ano e desta vez com os vencedores na categoria de cinema.
Apesar de não ter visto ainda alguns dos possíveis vencedores do Oscar a melhor filme, caso de O Artista, Tree of Life, Os Descendentes, Shame, Hugo e The girl with the dragon tattoo; acho que posso fazer um apanhado do ano de acordo com o meu subjectivo bom gosto.

Este foi sem dúvida um ano de grandes filmes, de grandes realizadores, de grandes produções e também porque não decepções.

Começamos pelas decepções. Quando digo "decepções",  não é exactamente pelo facto de antes de ver o filme não saber que é mau, mas pela decepção de ter perdido tempo valioso da minha vida a vê-lo e nisto a Ressaca 2 é o campeão.
Humor básico, ordinário e de mau gosto, nada do que tinha sido feito e elogiado no ano anterior. O argumento esgotou-se no primeiro filme e não precisava de uma sequela que é um autêntico freak-show do Mr.Chow onde valores como a amizade deambulam pelas ruas distorcidas da Tailândia. Tenebroso!

Outro atentado à inteligência deste ano é o novo Transformers. John Malcovich parece o Adam Sandler tão má é a sua interpretação. Acho sinceramente que este filme devia ser utilizado pela CIA como método de tortura por estimulação sensorial. Óculos 3D e ataque epiléptico garantido.

Cowboys vs Aliens podia ser uma de duas coisas com este nome: Um filme pseudo-serie B tipo Machete ou uma bela parvoíce. Optaram pela segunda e nem o Indiana Jones, o James bond ou a bela Olivia Wilde conseguiram salvá-lo.

Mas basta de falar dos maus exemplos, e vamos passar directamente para os 5 melhores filmes de 2011. Na minha lista não marcarão presença alguns dos favoritos deste ano como Moneyball e The Ides Of March que embora sejam realizações muito competentes, com boas interpretações não apaixonam e não geram emoção. São histórias razoáveis muito bem contadas.

The Help irrita-me e por isso também não fará parte dos 5 grandes vencedores. Odeio quando um filme é feito para ganhar o Oscar. Este tem tudo:
Afro-Americanas que falam com a mão na anca e terminam a frase com "unhhhhunhhhhh" - Check
Luta de classes - Check
Hairspray, e donas de casa materialistas - Check
Humor terno e amizade inter-racial - Check
Final feliz - Check
As interpretações são boas embora já tenha visto bem melhor, não obstante uma palavra de louvor para Jessica Chastain que provavelmente era a que mais merecia uma estatueta nesta longa metragem e é provavelmente a que não vai receber. Se calhar é porque não mete a mão na anca.

Warrior muito certamente não será nem nomeado para nenhuma categoria mas aqui no Foam foi o quinto melhor filme do ano.
Uma lição exemplar de como fazer um "Blockbuster" e ser fonte de entretenimento. Aliás o filme foi tão bem feito que acabou por não ter o sucesso merecido por mais paradoxa que possa parecer esta constatação.
O melhor filme de desportos de combate desde Rocky é um turbilhão de emoções. Ingénuas e infantis mas mesmo assim emoções. Nunca desejei tanto que os heróis ganhassem, nunca ansiei tanto por um final feliz e tudo por causa de representações muito conseguidas. Tom Hardy é um actor de mão cheia e Nick Nolte é sublime e digno de nomeação a oscar.
Este é um filme humilde que sem querer ser uma dissertação filosófica, retrata de maneira crua uma família disfuncional, que orfã de mãe tenta erguer-se de novo e procurar amor onde só existe decepção e ressentimento.
Este é um daqueles filmes, que nos faz sentir humanos. Porque as suas personagens não são clichés, são pessoas.




 
Se os filmes do Woody Allen fossem uma refeição, este Midnight in Paris seria a sobremesa. Um conto encantado na Cidade das Luzes onde um escritor desinspirado encontra uma passagem secreta que lhe permite estar lado a lado com os grandes artistas da época de Dali e Picasso. Owen Wilson faz um bom trabalho ao representar algo que é muito comum no mundo das artes: pessoas vazias, de frases feitas, em inglês: "full of shit".
Nesta comédia o escritor, que se encontra noivo de uma mulher repulsiva, deixa-se levar pela corrente deste novo mundo onde trava diálogos interessantes e divertidos com algumas das personagens mais importantes das artes desde a "Belle Epoque". Subitamente apaixona-se por Marion Cotillard, uma espécie de groupie daqueles tempos, mas acaba por perceber e identificar os defeitos que mancham o virtuosismo e a eloquência artística de então.  
A nostalgia sobrevaloriza a arte e acaba por ser esta a base da grande crítica de Woody Allen: Os tempos antigos, só por serem antigos não têm que ser melhor que os dias de hoje. Artisticamente falando, claro.





Existe uma categoria que não entendo muito bem nas atribuições dos grandes prémios de cinema. Trata-se da categoria de Melhor Filme de Língua Estrangeira. E o que não entendo é porque é que se tem que separar grandes filmes para uma categoria inferior quando existem anos que mais de metade dos melhores filmes são produzidos fora dos Estados Unidos e noutro idioma.
A Academia é Norte-Americana, mas o fenómeno é global e não estaria mal que o Oscar representasse o que de melhor se faz em todo o mundo.
A Separation é um exemplo do que é a força dramática. Para sentir tensão não é necessário haver uma bomba com dois fios de cor diferente e ter que cortar um, este filme é a prova disso.
Este drama Iraniano é uma critica à sociedade do seu país, à classe média, ao fundamentalismo religioso, à justiça e é ao mesmo tempo benevolente e compreensivo para com todos os intervenientes.
Neste divórcio todas as personagens têm culpa e todos têm razão, o realizador não escolhe um lado, e é esta dança pelo limite do que está certo e errado que pode prevenir a explosão e o descalabro sentimental das personagens. O juízo de valores cabe ao espectador.
Um filme de coragem, e uma boa maneira do público dar uma espreitadela a uma sociedade que vive detrás das sombras de misseis nucleares e que muitas vezes esquecemos que são um povo tão culto e letrado como muitos países do ocidente.




Este filme já teve direito à sua critica no blog aqui.






Melancholia certamente também não receberá qualquer louvor seja porque o filme é sobre um tema pouco cinematográfico: a depressão. Ou pelos comentários a roçar o anti-semita de Lars Von Trier em Cannes (ver aqui). Mas para mim foi o melhor filme do ano.
A história aparente é de ficção científica mal contada, o planeta Melancholia vem em direcção à terra (sabe-se lá porquê), prestes a deixar tudo o que conhecemos em poeira cósmica e o pessoal na terra anda com o que coloquialmente podemos chamar "miúfa".
A história subjacente é muito mais que isso, é sobre a depressão e velocidades.
Justine (Kirsten Dunst) no dia do seu casamento avista uma estrela estranha no céu e sem razão aparente (algo comum nas depressões) começa a sentir-se miserável e ao mesmo tempo culpada pois aquele devia ser o dia mais feliz da sua vida.
A primeira das duas partes do filme relata a cerimónia e a evolução do estado de ânimo da noiva, a sua relação com os familiares e o noivo. Enquanto que a segunda se centra na sua irmã Claire (Charlotte Gainsbourg) e na sua capacidade de multiplicar-se em  tarefas e acabar por ser o pilar da sua familia.
Melancholia é uma metáfora de proporções planetárias para relatar uma doença grave que afecta muitos milhões de pessoas. Para os doentes que a sofrem, o seu mundo sim parece que vai acabar, embora também seja produzida por cataclismos como a percepção do fim...
O filme gira em torno de 4 velocidades. 
A velocidade do planeta que se aproxima; a velocidade lenta da depressão de Justine, que a corrói aos poucos e a mumifica com mordaças invisíveis do niilismo mais puro e que ao mesmo tempo a acalma cada vez que se aproxima mais do momento do embate; a velocidade linear da ansiedade crescente de Claire, uma mulher forte que sofre pelo seu filho; e o desespero tardio, absoluto e galopante do seu marido, um optimista e ponderado homem.
O melhor desta longa metragem é o seu inicio, com imagens esteticamente perfeitas, e o seu fim. A última cena é épica, duma grandiosidade dramática e visual fantástica. Kirsten Dunst faz o papel da sua vida. E Lars Von Trier o seu melhor filme. Pena que o tenha assassinado com a sua verborreia,


O que achas da lista? Quais foram os teus favoritos? Deixa o teu comentário em baixo ou na página do facebook.

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