quarta-feira, 21 de março de 2012

Indie e Tapas - A Nova Música Espanhola

Falar da música espanhola sem fazer uma referência a um dos maiores ícones de sempre do país vizinho, Camarón de la Isla, seria como negar a influência de Amália Rodrigues em muitos dos maiores compositores portugueses. Neste post não falarei da globalidade do panorama musical, mas apenas no nicho que representa o Indie-Rock espanhol. De qualquer maneira, acredito que se Camarón não tivesse existido, de uma maneira ou outra, o Rock (em Espanha), na sua generalidade teria sido muito diferente do que é hoje.
 O Gipsy-Cool, a Rockstar do Folclore, Camarón, nasceu como cigano mas morreu como uma lenda em 1992, devido a um cancro de pulmão provavelmente alimentado por muitos anos de drogas e tabagismo. Nove dos seus álbuns foram acompanhados pelo gigante Paco de Lucia e mais tarde por um dos seus alunos, Tomatito, à medida que Paco desenvolveu a sua carreira a solo. Foi um gigante do seu tempo que revolucionou primariamente o Flamenco, adicionando novos instrumentos no seu processo criativo como por exemplo o baixo eléctrico, mas as consequências da sua genialidade contaminaram todos os estilos e a essência da composição no reino vizinho.

Camaron - La leyenda del tiempo

A partir dos ritmos ciganos de Cádiz, a embriologia do Indie começou a desenhar o seu aspecto no final nos anos 70, depois da morte de Franco. O movimento que impulsionou España para a modernidade, ficou conhecido nos livros de história como "La Movida Madrileña" e foi uma autêntica revolução artística e cultural. Foi como o choro de quem nasceu e sentiu pela primeira vez o cheiro da liberdade. Todas as áreas de criação sofreram um "boom". Da música através da criação das primeiras editoras independentes e do nascimento exponencial de bandas novas, ao cinema pela mão de Pedro Almodóvar, passando pela literatura, pintura e até a moda com os desenhos pioneiros de Agatha Ruiz de la Prada, Espanha desabrochou.

À medida que os 80 passavam, micro-movimentos surgiram por diferentes cidades espanholas, San Sebastián, Barcelona, Bilbao, foram alguns dos pólos de novas tribos urbanas e modernidade social. Neste processo de expansão, inevitavelmente os ecos britânicos acabaram por ouvir-se e bandas como Joy Division e Velvet Underground transmitiram o vírus British a esta caldeirada mediterrânica que teve como resultado aqueles que foram na minha visão os pais do Indie actual: Los Planetas.
Esta é provavelmente a banda mais respeitada por todos aqueles aqueles que de alguma maneira entraram em contacto com o rock espanhol, imunes ao hype, têm receitas sólidas, e os seus pratos servidos em forma de álbuns são geralmente cozinhados na perfeição. Contam com duas mãos cheias de trabalhos na sua discografia. O perfume do Flamenco de Cádiz e as sofisticação das guitarradas das terras de Sua Majestade filtradas pelas ruas loucas de Madrid, encontraram nas muralhas de Alhambra um local para namorar e assim em Granada nasceu o Indie espanhol.

Los Planetas - Un buen dia

A partir daqui e como diz o povo: "Foi sempre a abrir"!
Nos oito anos que vivi em Espanha aprendi que os nossos vizinhos gostam de exagerar em muitas coisas. E no que toca à cultura Indie está completamente massificada. O alternativo é que agora vás nas ruas de Barcelona sem umas Ray-Ban postas. Por esta razão é impossível falar das muitas dezenas, senão centenas de bandas que procuram um espaço no mercado musical e na rota dos festivais de verão espanhóis. Farei apenas um resumo de bandas que podem ser agradáveis aos leitores. Sinceramente creio que não existe nenhuma que me encha as medidas, mas o objectivo deste post é dar a conhecer um novo universo musical, a quem não conhece.

Um dos meus favoritos são os Catpeople, conjunto galego que reside em Barcelona. Contam já com três álbuns e têm desenvolvido de forma sólida uma carreira que parece durar ainda que cantem em Inglês, condição que apesar de notórias melhorias limita em muito a popularidade de uma banda em Espanha. A generalidade dos espanhóis é péssima em Inglês e tudo o que não sejam refrões orelhudos e na-na-nas é muito difícil que pegue. Estes conseguiram!

Catpeople - Radio

Catpeople - Love Battle

Por falar em refrões fáceis em inglês, ficam aqui também os já extintos mas simpáticos The Sunday Drivers que fizeram bastante sucesso e correram todo o país durante 10 anos até 2010.

The Sunday Drivers - Do it

Os Zodiacs tentaram compor a Reptilia dos Strokes à moda ibérica e embora tenha sido um grande sucesso, o seu estado como banda continua bastante letárgico.

Zodiacs - Chica Normal

Mas nem tudo é rockzinho garage para ouvir na rádio a meio gás. Existem também coisas totalmente novas. Um dos melhores exemplos é o Indie-Tropical que Pablo Diaz-Reixa, através do seu projecto El Guincho, faz. Um exemplo de originalidade e internacionalização."Bombay", um dos singles do seu último álbum "Pop Negro" já teve direito ao seu YEAHHH FOAMCLIP, mas está aqui de novo.

El Guincho - Bombay

Pelos antros escuros do electro-punk e o electroclash deambulam grupos que envergonhariam a própria pauta musical fazendo com que as suas linhas servissem para enforcar a clave de Sol. Os Putilatex são tão maus que nem tenho coragem de os pôr aqui no Foam, porém um imenso sucesso. Já um bom exemplo do que é uma boa malha de batidas e sintetizadores são os Cycle, este é o single que os resgatou do anonimato e gerou uma grande confusão.

Cycle - Confusion!!!

Folk!? Sim, também há! Russian Red, por muitos chamada a "Feist espanhola" marca já presença nos grandes festivais europeus ao lado dos nomes mais sonantes da música internacional. A compositora Lourdes Hernández tem 26 anos e anda nestas andanças desde 2007. "Fuerteventura" o último dos seus dois álbuns, foi acolhido com grande sucesso principalmente pelo público feminino.

 
Russian Red - Fuerteventura

Vetusta Morla (Madrid) e Love of Lesbian (Barcelona) são provavelmente as duas bandas que a nível nacional mais sucesso têm conseguido no presente. Cantam em Castelhano e são conhecidos pela maioria dos jovens cosmopolitas. Os seus concertos enchem em qualquer cidade e apesar de ambos andarem em palco há mais ou menos 15 anos, são a face mais recente desta cultura que parece transformar-se com o tempo mas que parece não ter fim. 

 
Vetusta Morla - Lo que te hace grande

Love of Lesbian - Alli donde soliamos gritar

Espanha ultrapassa em grandeza cultural o seu próprio nome, o castelhano não é a única forma de expressão musical e os Manel o melhor exemplo disso, tendo conseguido o incrível feito de colocar em primeiro lugar no top de vendas, por primeira vez na história, um trabalho cantado em catalão. 

Manel - Benvolgut

Para terminar este mega-post que deu muito trabalho e que espero que vos tenha gostado e mostrado um universo algo desconhecido deixo mais uma sugestão que brevemente marcará presença por terceira vez em Portugal. Depois do Festival Serra da Estrela e de Paredes de Coura os The Right Ons visitam o Porto no contexto do Optimus Primavera Sound prometendo pôr tudo a mexer com o seu shoegaze contagiante

The Right Ons - Do your thing, babe


The Right Ons - On the Radio

Sei que muitos portugueses ainda pensam que Espanha se resume a Bisbal e Héroes del Silencio e mantenho a esperança que com este post possa ter contrariado essa teoria. Nem todas as bandas que postei são do meu agrado, nem todas me parecem qualitativamente boas, mas é o que se ouve naquelas paragens. Devem considerar isto um Guia de Sobrevivência se algum dia considerarem uma visita aos escuros caminhos da teia dos clubes alternativos de Barcelona ou Madrid (lol).

O Indie já está servido, fico à espera das Tapas. Alguém???


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